sexta-feira, 6 de maio de 2016

De manhã

É tão intrigante o amanhecer. Principalmente quando se teve uma noite agradável, depois de ter ido dormir mais cedo que de costume. Não tem preço quando se pode ouvir o som dos bem-te-vis fazendo festa e mergulhando na copa das árvores como se estivessem convidando a natureza pra tomar um café da manhã. O vento sacudindo os galhos que balançam as folhas pra lá e pra cá, dá à gênese matinal um tom orquestrado à luz da aurora.

Mas as coisas são um pouco diferentes por aqui. Mesmo antes de conseguir abrir os olhos, é possível ouvir quase com precisão o som dos ônibus levando a galera pra trabalhar. É um ônibus atrás do outro, já que pouco antes da aurora a cidade toda vai pro labor. E também dá pra ouvir a molecada do colégio chegando, gritando, correndo, falando. Cada um de um jeito. Nesse horário as ruas possuem um quórum de veículos tão elevado que o dia é inaugurado ao som desajustado das buzinas dos apressados. No ponto de ônibus o silencio do cansaço, a espera quase que eterna daquele número da linha do transporte e a falta de lugar pra sentar é o retrato mais inusitado que a minha janela pode pintar naquele momento.

Mas, voltando ao sentimento anterior. À fragrância do café, o sol começa a pedir licença e seus raios passam a dominar a existência, devolvendo a nitidez da vida com um toque tão sutil e preciso que ultrapassam as vidraças e alimentam as orquídeas que estão sobre a mesa. Então nada mais educado que deixa-lo entrar de uma vez. Ao abrir as janelas e as portas, o sol invade o ambiente e com ele vem a brisa matinal que acaricia a tez da vida e a renova a disposição da mente e do corpo.

Pela janela é possível ver as árvores e, no meio delas, alguns prédios e outras construções. Dá pra ver também as aves passeando e, lá longe, um avião. E vendo o céu, todo azul, elas também estão ali, as nuvens, como se fossem algodões que foram colados pelas mãos de uma criança. Mas o que chama mais a atenção é o horizonte que, apesar de toda poluição que o cerca, ele sempre aparece por lá retratando com as cores mais belas o encontro da Terra com o Céu, devolvendo a esperança nossa de cada dia.

fim